IAGO – Estamos aqui reunidos nessa assembléia para discutirmos mais uma vez a conduta da ré “Droga de vida” que está destruindo a sociedade, causando desunião entre famílias, assombrando as noites de muitas mães, sufocando o pouco de dignidade que ainda lhes resta. Justificando-se às más companhias. Eis que aqui também se encontra outra ré: “Bala infeliz Pessoa” que penetra no corpo da vítima fazendo jorrar sangue. Muitas vezes deixa-a viver a agonia, até que seu corpo diga adeus às noites que passou nesse miserável destino de roubar, matar, traficar e enfim tirando o último suspiro de vida, que na hora da morte é tomado pela escuridão que perpetuará nas trevas dos que compartilham com o diabo! Peço-lhes que sob arrependimento convençam-me com súplicas de perdão.
C. ANDRADE – Eu sou uma bala perdida, uma bala desgraçada, inofensiva, feito uma criança abandonada. E Eu estou sendo injustiçada, se estou aqui é porque fui disparada. Eu não queria entrar na arma. Mas o dedo foi mais forte. O dedo me, pois na arma puxou o gatilho, então porque que eu sou responsabilizada pela morte? Eu gostaria de ser uma bala de mel, feita com amor e embrulhada num papel. Mas vocês me fizeram pra acabar com a vida... Eu sempre fui perdida por natureza. Até em suicídios ou em legítima defesa. A maioria ainda nem percebeu vocês tão muito mais perdidos do que eu!
CARMEM – Os senhores contestam? A palavra está facultada.
JOELMA – Você que zomba dos outros, me dá resposta à pergunta que não se cala!
LUCINHA – Meu nome é pátria mãe gentil. Tentei fazer um aborto. Daí, eu sem dinheiro tive que tentar fazer um aborto caseiro. Tomei cachaça, tomei purgante... Mas a gravidez era cada vez mais flagrante. Então eu pedi pra um mendigo esmurrar minha barriga e a cada chute que ele dava o moleque revidava lá de dentro. Aprendeu a ser um feto violento. Um feto forte escapou da morte, não se sabe se por muito azar ou muita sorte. E, nove meses depois, deixei com fome e com frio, abandonado em um terreno baldio.
TODOS – Pátria que me pariu, quem foi pátria que me pariu? 2x
CARMEM – Essa criança não tem pai nem mãe. Então, qual é a cara da criança? A cara do perdão ou da vingança? Será a cara do desespero ou esperança? Um futuro melhor... Um emprego um lar... Sinal vermelho: Não dá tempo pra pensar!
ERAIRTON – Não fecha o vidro que eu não sou pivete. Eu não vou virar ladrão se você me der uma grana, um meião, uma chuteira e uma camisa do mengão pra eu jogar na seleção que nem o Ronaldinho... Vou pra Copa, vou pra Europa...
TODOS – O sonho acontece pra quem acredita... Pátria que me pariu, quem foi pátria que me pariu?
BRUNA – Eu também gostaria de saber, perguntar a ela se não havia pelo menos uma favela... Eu queria morar numa favela. E você me chame do que quiser seu “doto”, eu não tenho nome, eu não tenho identidade. Eu só como o entulho. Papel higiênico usado. Embrulho-me com jornal nas calçadas. Pelo menos uma favela... Eu nunca vou aparecer num cartão postal, porque pra eles eu sou poluição. Eu queria morar numa favela. O meu sonho é morar numa favela.
ALINE – E eu que sou tão estragada... Você quer a minha casa? Experimenta viver com pais separados discutindo a minha guarda! Nunca me perguntaram o que eu achava disso tudo. Agora só quero fugir daqui... Eu tenho medo que minhas mãos me sufoquem... Nesse apartamento só. Meu mundo gira e eu só quero fugir... Cadê meus amigos? Cadê todo mundo? Minha cabeça vai explodir.
TIAGO – “Ai mané, qualé a tua?” Que bicho te mordeu ai na lua? Eu sou o Brazuca. Brazuca é bom de bola. Brazuca trabalha, mas também ta na escola! A minha mãe só me trata no empurrão... Mas a minha professora é legal e é na escola que aposto todos os meus sonhos. Vou comprar uma casa pra Minha mãe, pra ela não se aborrecer mais comigo e me dar carinho. Ela só é assim porque tá cansada de olhar a miséria cozinhando...Quando pode! Sabe é que às vezes falta gás... Daí sã três dias esperando a merenda da escola.
LEONARDO – Eu também já senti a fome doer, então resolvi roubar. ”Os cara” pegaram minha mulher e mataram depois de violentar. Eles quase me pegaram... Mas a polícia me pegou primeiro. Pelo menos fui em cana pra me livrar da morte!
ALINE – Eu to cheirando cola pra esquecer das surras que levei, agora eu sei, to zoando e nem sei quem sou. Meu nome? Como é? Onde estou? Não sei.
CARMEM – Olha pro mundo! Vê a pátria mãe gentil sofrendo sem amor e sem felicidade. Seus filhos atordoados... É preciso de paz!
JOELMA – Meu pai fugiu de casa quando a policia chegou. Violentou minha irmã, depois escapou. É preciso ter paz.
LUCINHA – Me perdoa filho, dezessete anos te procurando! Te deixei naquele lixo e dele você comeu... Me pergunto agora se aquele lixo é ainda mais saudável que as coisas que você ouviu. A sociedade te empurra a miséria goela adentro e te olha de canto, mas eu que te olhei estou aqui. Perdoa meu filho eu quero paz.
CARMEM – Meritíssimo Juiz, onde está a meretriz?
TODOS – A justiça de Deus tarda mais não falha! A justiça de Deus tarda mais não falha!
IAGO – Eu te perdôo de uma vez, mas tente também me perdoar. Sou formado e diplomado e vou parar de fumar.
LEONARDO – Eu não quero mais roubar, quando eu sair da cadeia, quero viver na alegria. Vou pintar e fazer a minha parte: Essa é a grande arte!
TODOS – A arte de viver, a arte de fazer a paz!
ALINE – Meus pais pagam meu tratamento por um preço muito alto, mas juro que se eu escapar vou contribuir com uma entidade carente e dar o meu exemplo. É preciso de paz!
ERAIRTON – Se a galera vacilar, vou ser campeão de natação. To adorando viver, vou ter sucesso e talvez fama, vou pintar o mundo de todos nós. Plantar o amor no jardim de cada um e a paz nascerá no horizonte e, o horizonte estará em mim.
[GRUPO 1] IAGO, ERAIRTON, TIAGO – É preciso amar a vida, dar valor a si e ao amanhã.
[GRUPO 2] C. ANDRADE, ALINE, JOELMA – Colhemos o que plantamos, regado ao nosso suor.
[GRUPO 3] CARMEM, LUCINHA, BRUNA – Depois da chuva a tempestade, se Deus quiser é nessa sociedade que lançarei minha sorte.
GRUPO 1 – Minha estrada, faço eu. Vou deixar o orgulho e amar mais.
GRUPO 2 – Amar mais!
GRUPO 3 – Vou ter mais amor à vida!
TODOS – Viva a vida e cada momento que há!
C. ANDRADE – Faça cada momento...
TODOS – um tempo de paz!
Texto da Professora C. Andrade
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